Meditar a respeito de um tema tão delicado como o racismo não é uma tarefa fácil. Por isso mesmo, o desafio foi proposto aos alunos do Programa Sócio Educativo Preparando o Futuro, da ABCJ, nesta semana. Independente da cor da pele, eles foram convidados a pensar sobre a questão, tendo como ponto de partida a palestra “O trauma do racismo sistemático está matando mulheres negras”, feita por T. Morgan Dixon e Vanessa Garrison, fundadoras da “Girl Trek”, que mobiliza mulheres e meninas negras a recuperarem a auto-estima por meio de caminhadas.
O que parece um tema simples ganha nuances complexas quando se vivencia que 137 mulheres negras morrem por dia na América de doença cardíaca. E a palestra aponta que isso acontece porque, mais do que obesidade, essas pessoas adoecem por conta do racismo sistêmico, com o qual lidam desde o nascimento.
A proposta das palestrantes é que essas mulheres façam parte de um grande grupo de caminhadas que, além de movimentar em prol da saúde, permite que elas dividam experiências, decepções, conquistas, alegrias e decepções, de forma a desenvolverem o autocuidado e a união para mudarem suas realidades e da comunidade em que vivem.
A Lívia, uma aluna muito antenada à questão do racismo, deu um depoimento surpreendente. “Ser uma pessoa preta é difícil. Ser uma pessoa preta e ainda ser mulher, ouso dizer que é absurdamente difícil. (…) O racismo adoece. Não só quem sofre quanto quem pratica. É uma ferida aberta que não cicatriza, e algumas vezes, torna-se dolorosa demais para suportar”.
Nosso aluno Gabriel Vieira lembrou que a caminhada tem duplo impacto: o benefício à saúde somado à simbologia de resistência à escravidão. “O impacto do projeto vai muito além da saúde física das participantes, uma vez que as ajuda a organizarem suas famílias e resolverem juntas os problemas de suas comunidades, gerando um grande impacto social.”
Já a aluna Júlia destacou que a caminhada pode ser muito simples, mas com um impacto muito grande: “Uma atitude pode mudar o mundo, mesmo que essa atitude seja pequena. Precisamos mudar o mundo, e conseguimos fazer isso com pequenas ações. Podemos até não mudar o mundo inteiro, mas sim o mundo de alguém.”