Para quem ouve perfeitamente, para quem vê sem grandes dificuldades, para quem se movimenta sem nenhuma restrição, abordar temas como a surdez, a visão ou as dificuldades de mobilidade pode ser muito abstrato. Visando trazer para a realidade do jovem estudante do Preparando o Futuro um pouco de como é o dia a dia de alguém surdo, a palestra do sábado (27) foi realizada por ninguém menos do que nossa aluna Giovanna de Fátima Cândido Pereira, e sua intérprete de Libras, Andrea Poletto. As duas falaram um pouco sobre a Cultura Surda e sobre a rotina da jovem.
A chegada da Giovanna no Preparando o Futuro foi cercada de desafios para toda a Equipe Técnica e para a diretoria da ABCJ. Ela conseguiu garantir sua vaga no curso por méritos próprios, tendo passado pelo Processo Seletivo em 2020 como todos os outros candidatos. Giovanna é surda desde o nascimento, mas isso não a impediu de ser uma jovem muito batalhadora, inteligente, esforçada e dinâmica. Acompanhada por uma intérprete, tem participado de todo o curso e se sai muito bem não apenas nos ensinos técnicos de Operador de Logística, mas em todas as atividades da ABCJ e de sua vida pessoal, inclusive no curso de teatro da ATmimos (veja o vídeo do projeto https://youtu.be/ajCzJ4Hsymo), que terá apresentações neste sábado.
Os colegas ficaram muito impressionados com a desenvoltura dela, que em nenhum momento demostrou ansiedade ou timidez. “Eu fiquei muito emocionada e muito feliz. Foi a primeira vez que eu fiz uma palestra. Não fiquei nervosa, foi bem tranquilo. Consegui passar para todos os alunos o que eu queria. Muito feliz e satisfeita. Espero que eles tenham mais interesse em aprender libras para a inclusão do surdo”, contou ela.
Para a aluna Larissa, é importante estarmos atentos ao fato de que 80% dos surdos do mundo são analfabetos. “Ser surdo é saber que pode falar com mãos e pude ter o prazer de conviver com pessoas que, em um universo de barulhos, estão percebendo o mundo principalmente pela visão, e isso faz com que eles sejam diferentes e especiais, não necessariamente deficientes. A grande diferença está no modo de apreender, o que nos leva a falar sobre a ‘comunidade surda’, que tem o papel fundamental de ajudar da melhor forma possível”.
O estudante Giovani destacou que ainda temos um longo caminho rumo à adaptação para tornar viável o acesso de todos. “É fundamental que as pessoas com alguma dificuldade possam ter os mesmo direitos e acessos do que todos. Na cultura surda, há uma grande dificuldade em poder frequentar os lugares públicos por conta da falta de comunicação. A maior parte da população não tem conhecimento algum sobre Libras. É muito importante transmitir esse conhecimento a todos e fazer com que a população adote a Libras como sua língua também, para que haja uma maior inclusão e igualdade entre as pessoas”.
A estudante Yasmin demonstrou que entre os ‘ouvintes’ também existe uma barreira: a de não saber como abordar o tema. “Acho que a palestra foi uma parte importante do projeto, super necessária por sinal. Vivemos em um mundo onde temos pessoas com deficiências e ela são tratadas como diferentes. Sempre fui interessada no assunto, porém nunca tive oportunidade e sempre tive receio de demonstrar interesse e não saber chegar e como falar, as vezes falamos de bom coração e saímos mal interpretados por não entendemos a vida do outro!!”
O aluno Alberto destacou a importância do encontro com a colega. “Antes de conhecer a Giovanna, eu não tinha noção do quanto pessoas surdas e a cultura deles precisam ser conhecidos e valorizados (…) Pessoas que não têm nenhum tipo de deficiência devem se esforçar para conhecer e aprender mais sobre a cultura surda, a fim de aprenderem Libras. Algo que acredito que deveria ser incluso nas escolas, facilitando a comunicação com os surdos, e desenvolvendo uma vida melhor para essas pessoas e no convívio com a sociedade. Agradeço a oportunidade de participar desse projeto e de ter tido o prazer de conhecer a Gi e a Andréa, e ter aprendido muito sobre a cultura surda e um pouco de Libras”.
EQUIPE ABCJ